quarta-feira, 20 de maio de 2009

Expressão popular: Cheio de nove horas

O escritor Malba Tahan explica em seu livro Os Números Governam o Mundo, que antigamente nove horas era frase familiar de despedida, porque assinalava o termo de uma visita ou de uma prosa. Com a frase "São nove horas e não chove", o visitante revelava ao visitado o seu desejo de partir, enquanto outras pessoas, nas ruas, avisavam em voz alta: "Nove horas! Nove horas! Quem é de dentro, dentro, quem é de fora, fora...". Mas quando a visita era importante, ou interessava de modo especial ao dono da casa, este ponderava amigavelmente: "Ora, não esteja, desde já, com nove-horas", ou ainda, "O senhor está cheio de nove-horas".

Em sua obra aqui mencionada, o celebrado professor de matemática e escritor também informa que o poeta mineiro chamado Ataliba Lago dava outra explicação curiosa para a origem da expressão. Dizia ele em um de seus trabalhos: "Existe uma planta, a sensitiva, ou maria-fecha-a-porta, que é pelo nosso sertanejo denominada nove-horas. Ao menor toque essa planta 'se encolhe' toda, pois é muito sensível e delicada. A pessoa cheia de luxos e melindres, é por isso denominada 'cheia de nove-horas ".

São numerosos os registros onde está presente a anotação de que nos tempos passados as pessoas se recolhiam às suas casas, costumeiramente, às nove horas da noite. Por isso, quando os ponteiros dos relógios se aproximavam desse horário limite, a praxe era de que as visitas chegassem ao fim, os jogos ou qualquer outro tipo de divertimento terminassem, e homens e mulheres tomassem o caminho de suas respectivas residências. Esse costume europeu chegou ao Brasil ainda nos tempos coloniais, sabendo-se que por volta do século dezenove os policiais do Rio de Janeiro e de algumas outras cidades brasileiras obedeciam ao pé da letra um dispositivo do seu regulamento onde ficava explícito que depois das nove horas da noite, "ninguém será isento de ser apalpado e revistado".


Daí que essa expressão foi-se tornando popular, embora o seu sentido original tenha sofrido modificação, e agora é usada sempre que se deseja insinuar que algum sujeito é cheio de etiquetas e manias, transbordante de melindres, ou absolutamente chato em suas exigências e censuras. Diz-se, então, que essa peça rara é "cheia de nove-horas".


FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

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