quinta-feira, 14 de maio de 2009

À complexa simplicidade das mães

Na 127° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de maio de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 Khz AM, ofertamos o poema: À complexa simplicidade das Mães, da professora Rosângela Góes de Figueiredo que reside na cidade de Valença Bahia.

Mães se traduzem para alem das razões cotidianas.
Talvez se encontrem num último ponto de reflexo:
O refluxo instante à divina parte
Que a arte revela no materno olhar.

Dos olhos das mães jorra o fio, trivial e complexo
Em que a vital consistência se sustenta
Nessa trama delicada e tão sofisticada
Tecida entre a pedra do corpo e o raio da alma.

Por ela, alta nos fala a natureza dos céus.
E se, mães, de Deus uma palavra imitam
É porque de intérpretes lhes servem
Com sua expressão macia.

Sementes do sonho, estrelas-guia.
Transcendem, com seu olhar de fonte imperecível
Todas as idas sem retorno, todos os becos sem saída...

Do vôo de braços amplos para o abraço
Tornado possível em cruz abertos,
A noite dura em que principia o de-carne-ser
Se precipita nelas...

Inscritas no tempo viajante entre o céu e a terra
Seguem o percurso do fio.
Costurado à barriga, carregam o universo
- Mãe-ligação entre a emoção que sobra
E à obra reduzida à finita razão.

No coração de maio
Mães se reconhecem para além dos incêndios
Das cidades iluminadas com seus anúncios
E seus crimes...
Acesas em sua flama destemida
Sustentam a palavra solidária com mãos
Inesperadamente firmes e sempre abertas.
Caminham. E sobre seus passos indeléveis
Refazem o roteiro dos caminhantes incertos,
Perdidos na mortal dispersão
Da humanidade de seus filhos...

Os filhos são pequenos, frágeis guerreiros.
Vivem da crua disputa entre a razão e o seu contrário
Para não falar das outras muitas lutas e faltas
Do amor e do salário.

O colo das mães é sempre vasto amplexo.
Busca repouso ali o gigante-menino cansado
De um ter que ser no dia-a-dia consumido na mais-valia
As palavras são bonitas, benditas, mas finitas...
Nem mesmo as da poesia – velejantes no seu mar fônico de
Mil sentidos,
Conseguem traduzir em tal beleza a natureza
De um olhar de mãe.

Só essas criaturas- fiéis à gênese primordial divina-
Embalam entre dores e esperanças
A linguagem do gênio criador.
E elas, pulsantes fontes estelares do amor absoluto,
São o fruto eterno, seiva vital e mais original
Até hoje sem explicação.

Mas, se lhes explicar não podem os cânones ou dicionários,
Podem todos os cursos lacrimais fluírem
Todas as portas celestiais se abrirem
Pelo olhos das mães.


Professora Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo.
Retirado do livro: Valenciando- poesia e prosa: antologia de escritores de Valença- Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, 2005.

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